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sexta-feira, 12 de julho de 2013

Transtorno de personalidade esquizoide

A Perturbação da Personalidade Esquizóide expressa-se, essencialmente, por três características:

1 - Falha de interesse nas relações sociais,
2 - Tendência ao isolamento e
3 - Frieza emocional.

Apesar da semelhança semântica e de alguns sintomas semelhantes (como o embotamento emocional e o isolamento), esta perturbação não é o mesmo que a Esquizofrenia (a Esquizofrenia caracteriza-se, sobretudo, por uma fragmentação da estrutura básica dos processos de pensamento, acompanhada pela dificuldade em estabelecer a distinção entre experiências internas e externas, como é o caso dos sintomas psicóticos de delírio ou alucinação).
As pessoas Esquizóides sentem-se frequentemente incompreendidas, o que reforça mais ainda a tendência ao isolamento e ao afastamento dos mortais comuns.
Este ausente sentimento de companheirismo normalmente é compensado com o zelo apaixonado pela leitura, pelos animais ou alguma outra expressão artística de difícil compreensão.
Tal como em outros transtornos da personalidade, a pessoa esquizóide também é desadaptada, provoca sempre um mal estar familiar, profissional e social, além de angustiante sofrimento pessoal.
As áreas perturbadas da personalidade começam por se manifestar na adolescência e persistem na vida adulta, provocando maior ou menor grau de incapacidade pessoal e social, agravando-se consideravelmente em situações de maior stress. A pessoa esquizóide possui traços rígidos, excêntricos e inadequados, impedindo adaptação saudável às mudanças do ambiente e bom relacionamento interpessoal.
O termo “esquizóide” foi criado por Eugen Bleuer, no início do século XX, para definir uma tendência da pessoa para dirigir a sua atenção para o mundo interior, fechando-se ao exterior.
A característica central que define esta perturbação da personalidade é o padrão evasivo de distanciamento de relacionamentos sociais e uma diminuta expressão emocional em termos interpessoais. Este padrão começa no início da idade adulta e apresenta-se em diversos contextos.
Os indivíduos com esta perturbação parecem não ter um desejo de intimidade, preferindo passar o tempo sozinhos em detrimento de estar com outras pessoas (mesmo no contexto familiar). As actividades escolhidas são predominantemente solitárias. Mesmo quando se tratam de momentos com outras pessoas, a interacção é diminuta.
Deste modo, identifica-se uma preferência por tarefas mecânicas ou abstractas, assim como uma satisfação reduzida em experiências sensoriais.
A pessoa com Perturbação da Personalidade Esquizóide parece, igualmente, indiferente às críticas ou elogios. Pode parecer lento e letárgico, com um discurso monocórdico, tendo tendencialmente um humor negativo.
Esta perturbação da personalidade pode aparecer pela primeira vez na infância ou adolescência sob a forma de solidão, fraco relacionamento com os pares e baixo rendimento escolar, podendo criar situações em que estas crianças e adolescentes sejam vistas como diferentes e como alvos de bullying.
A Perturbação da Personalidade Esquizóide é diagnosticada com uma frequência levemente superior em sujeitos do sexo masculino. Pode, ainda, ter uma prevalência maior entre os parentes de indivíduos com Esquizofrenia ou Perturbação da Personalidade Esquizotípica.
Pessoas esquizóides são normalmente pessoas desinteressantes, inconstantes, incoerentes e desinteressadas nas actividades do dia a dia. Trata-se de uma personalidade pré-mórbida ao desenvolvimento de uma patologia mental franca. Cerca de 10% das pessoas com personalidade do tipo esquizóide poderão vir a desenvolver uma esquizofrenia, porém, acontece que este tipo de personalidade agrava-se com o tempo, vindo a resvalar na esquizofrenia.
Pessoas com essa forma de personalidade aparentam não desejar intimidade, portanto, podem ter pouco interesse em experiências sexuais e têm prazer em nenhuma ou em poucas actividades. São geralmente pessoas indiferentes às oportunidades de relações de proximidade, não parecem ter satisfação em fazer parte de uma família ou grupo social. Existe, geralmente, uma experiência reduzida de prazer em experiências sensoriais, corporais ou interpessoais, tais como caminhar na praia ao pôr-do-sol ou fazer sexo, por exemplo.
Ao contrário das pessoas paranóides que rejeitam e se mobilizam muito com quaisquer críticas, as esquizóides são alheias à aprovação ou crítica dos outros. Geralmente elas não se importam com o que eventualmente possam pensar delas, não prestam atenção às subtilezas da interacção social parecendo superficiais e egoístas

 Sugestões terapêuticas
Como a psicoterapia tem uma forte natureza interpessoal, as pessoas com perturbação da personalidade esquizóide terão algumas dificuldades em se “encaixar” na colaboração e relação terapêutica.
A psicoterapia trará sentimentos ambíguos, havendo o receio por parte do doente que a mesma o faça descobrir mais falhas na sua personalidade e aumentar o seu sentido de ser desadequado.
Será, igualmente, difícil definir objectivos terapêuticos de mudança e colaboração.
Com validação por parte do terapeuta, será importante o foco da atenção na idiossincrasia do problema, isto é, naquilo que preocupa o doente num determinado tema. Será relevante clarificá-lo, evitando o desfasamento com as expectativas do terapeuta.
Será difícil para o terapeuta, por exemplo, aceitar objectivos terapêuticos que não incluam integração social e que não vão de encontro com estas crenças.
Por exemplo, quanto à temática de “não ter amigos”, o terapeuta poderá considerar que seria importante para o doente ter um amigo ou dois, quando para este o importante, neste tema, poderia ser que a família não estivesse sempre a dizer-lhe que deveria ter amigos.
Trabalhar com doentes cujas crenças e percepções contrastam significativamente com o terapeuta poderá trazer dificuldades. O doente poderá ter crenças como: “as pessoas são cruéis”; “as pessoas são frias”; “as pessoas apenas deverão falar se houver alguma coisa para falar”.
Do ponto de vista terapêutico, as sugestões definem-se no sentido do estabelecimento de uma relação de confiança fortalecida, de forma centrada no cliente.
Com a intervenção psicoterapêutica pretende-se ir “derretendo a máscara de gelo”, num movimento de mudança e segurança, com gradual expressão de necessidades e emoções.

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