Memento mori é uma expressão latina
que significa algo como "Lembra-te de que és mortal", "Lembra-te de
que vais morrer", ou traduzido à letra, quer dizer: "Lembra-te da
morte".
Este tipo de pensamento é muito utilizado dentro da literatura,
principalmente na literatura barroca.
Dia 21/12/12 seria o fim do mundo. A importância que se dá à suposta
profecia dos Maias é directamente proporcional ao esforço que a nossa
sociedade faz para esconder o fim de cada um. Para todos nós, a morte é o
fim do mundo. Pode ser o fim de um mundo, para quem crê; pode ser o fim
de tudo, para o descrente; mas com certeza é o fim da vida tal como a
conhecemos.
Na nossa sociedade morre-se às escondidas, em um
hospital. Pela primeira vez na história da humanidade, é possível morrer
de velho sem jamais ter visto um cadáver. Um dia a pessoa estava ali,
no outro dia no hospital, no dia seguinte desapareceu. Esta negação de
que a vida tenha um fim é apenas outro aspecto do culto à saúde que nos
deu o anti-tabagismo, as dietas, as academias em que se persegue a ilusão
da eterna juventude. É outra face do desprezo aos idosos e à sua
experiência.
Assim, a sociedade finge viver um eterno presente; algumas décadas
atrás, parecia ser da ordem natural das coisas que houvesse o então
chamado “mundo livre” e os países por trás da Cortina de Ferro. Hoje o
mesmo acontece com peculiaridades absolutamente transitórias de nosso
tempo, da última moda em redes sociais à última tentativa de transformar
alguma instituição de direito natural em outra coisa: é o casamento que
deixa de dizer respeito à perpetuação da espécie e passa a ser acerca
de sexo e dinheiro; é o direito penal que deixa de se preocupar com a
segurança da população para garantir os direitos humanos dos
criminosos...
Tudo o que é sólido desmancha no ar, mas esta dissolução é percebida
como um retrato instantâneo da solidez. Tudo o que é transitório é
tratado como se fosse permanente, e tudo o que é permanente é sujeito a
reengenharias mil.
Daí a sensação social de insegurança, a percepção de que a sociedade
como um todo é uma ilusão. E, da sociedade, passa-se à vida no planeta.
Não há tanta diferença entre o ambientalismo radical e a suposta profecia dos Maias: ambos são reflexos de uma percepção generalizada de haver
algo profundamente instável, profundamente desordenado, na maneira
supostamente perene como a nossa sociedade se relaciona com ela mesma e
com o mundo ao redor.
O fim que nos virá, contudo, não é o do mundo, mas o nosso. A
sociedade perdura, como uma cigarra que sai da casca antiga e ganha
mundo com um corpo novo. O homem, contudo, deixa o mundo. E é disto que
nos esquecemos. Memento mori, diziam os antigos: lembra-te de que
morrerás. Se não amanhã, um dia. Os maias – que já morreram – não têm
mais nada a ver com isso.
Vaidade terrena e Salvação Divina, de Hans Memling. Este tríptico contrasta o luxo e a beleza mundana e o luxo com a certeza da morte e o inferno.
domingo, 10 de março de 2013
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