O transtorno de stress pós-traumático é uma síndroma associada aos transtornos de ansiedade, apesar de este ser apenas um entre muitos sintomas nesta doença. Só recentemente foi reconhecida pela maioria dos profissionais de saúde e não era, portanto, incluída nos diagnósticos dos clínicos.
Existem, assim, muitos relatos de "neurose de guerra" da Primeira Guerra Mundial e mais tarde "neuroses traumáticas" da Segunda Guerra Mundial, além de outras reacções psicológicas duradouras dos sobreviventes do holocausto e de vários desastres civis.
A seguir à Guerra do Vietname descobriu-se que muitos dos veteranos sofriam da síndrome de choque pós-traumático, em que aconteciam flashbacks de experiências de combate que atormentavam as vítimas. E estes transtornos eram graves, incapacitantes e não desapareciam. Alguns soldados portugueses que combateram na guerra colonial apresentam os mesmos sintomas
Na verdade, hoje sabe-se que acidentes, tragédias pessoais tais como morte de familiares, abusos sexuais e violência doméstica, são igualmente factores que induzem no stress pós-traumático.
As situações
que são uma ameaça para a vida ou que podem causar lesões graves
podem afectar as pessoas muito depois de terem ocorrido. O medo intenso, o abandono
ou o terror podem obcecar uma pessoa. A situação traumática volta
a ser experimentada em repetidas ocasiões, geralmente como pesadelos ou
imagens que vêm à memória. A pessoa evita persistentemente coisas
que lhe recordem o trauma. Às vezes os sintomas só começam muitos
meses e inclusive anos depois do acontecimento traumático. A pessoa experimenta
uma diminuição da sua capacidade geral de reacção e sintomas
de hiperactividade (como a dificuldade para conciliar o sono ou assustar-se
com facilidade). Os sintomas depressivos são frequentes.
O stress
pós-traumático afecta pelo menos 1 % da população uma vez
na vida. Nas pessoas com maior risco, como os veteranos da guerra e as vítimas
de violações ou de outros actos violentos, tem uma maior incidência.
O stress pós-traumático crónico não desaparece, mas
muitas vezes torna-se menos intenso com o tempo, inclusive sem tratamento. No
entanto, algumas pessoas ficam indefinidamente marcadas por esta perturbação.
Em 1976, Horowitz publicou um trabalho sobre o impacto do trauma na personalidade. Observou que as vítimas de trauma alternam entre a negação do acontecimento e a sua repetição compulsiva através de pesadelos e flashbacks. Desta forma, a mente tenta processar e organizar estímulos avassaladores. Horowitz identificou oito temas psicológicos comuns que seguem um trauma muito forte: tristeza, culpa quanto aos impulsos destructivos, culpa por sobreviver, medo de identificar-se com as vítimas, vergonha por sentir-se desamparado e vazio, medo de repetir o trauma e intensa raiva dirigida à fonte do trauma.
Para ser diagnosticado, precisam de estar presentes vários sintomas:
O sujeito deveria ter experimentado um acontecimento traumático muito perturbador e fora do âmbito de experiência humana; deveria reviver este trauma através de sonhos ou pensamentos intrusivos; deveria sofrer de vigilância aumentada, falta de motivação, evitando dos estímulos associados ao trauma e explosões irracionais, bem como dificuldade em conciliar o sono. Estes sintomas teriam de existir pelo menos durante um mês após seis meses da experiência ter tido lugar. Se surgir antes destes seis meses, não é diagnosticada.
O tratamento é realizado, geralmente, através da psicoterapia individual e/ou familiar e da psicofarmacologia inclui terapia do comportamento, fármacos e psicoterapia. Na terapia do
comportamento, expõe-se a pessoa a situações que podem desencadear
recordações da experiência dolorosa. Depois de um aumento inicial
do mal-estar, geralmente a terapia comportamental diminui o sofrimento da pessoa.
A contenção dos rituais, como lavar-se de maneira excessiva depois
de uma agressão sexual, pode ser útil.
Os antidepressivos
e os ansiolíticos parecem ser úteis. A psicoterapia de apoio desempenha
um papel especialmente importante porque, frequentemente, existe uma ansiedade
intensa em relação à recordação dos acontecimentos
traumáticos. O terapeuta mostra uma empatia franca e reconhece simpaticamente
a dor emocional da pessoa. Confirma à pessoa que a sua resposta é
lógica, mas anima-a a encarar as suas recordações durante a terapia
comportamental dessensibilizante. Também se ensinam ao doente métodos
para controlar a ansiedade, o que o ajuda a modular e a integrar as recordações
dolorosas dentro da sua personalidade.
As pessoas
com stress pós-traumático têm com frequência sentimentos
de culpabilidade. Por exemplo podem julgar que actuaram de forma inaceitavelmente
agressiva e destrutiva durante o combate ou podem ter sofrido uma experiência
traumática na qual morreram familiares ou amigos e sentem culpa por terem
sobrevivido. Se for assim, a psicoterapia orientada para a introspecção
pode ajudar estas pessoas a compreenderem a razão pela qual se estão
a auto-inculpar e a libertarem-se desses sentimentos de culpa. Esta técnica
psicoterapêutica pode ser necessária para ajudar a pessoa a recuperar
as recordações traumáticas-chave que foram reprimidas, de tal
forma que possam ser manejadas de forma construtiva.
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