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segunda-feira, 21 de junho de 2010

Contemplação da Morte

Uma das poucas coisas certas na vida é a morte. É inevitável que todos morramos um dia, o que faz da contemplação da morte bum exercício que diz respeito a todas as pessoas. A maior parte de nós tem ainda mais medo da morte do que do envelhecimento. É natural que tenhamos medo da morte, pois sabemos muito pouco sobre ela, apesar de ser uma parte integrante da vida. Foi sempre um assunto tabu por provocar desconforto. As pessoas encaram a sua morte e a morte dos outros com ansiedade e receio. A uma dada altura da vida, a pessoa tem de se confrontar com a morte, quer com a sua quer com a dos seus entes queridos. É nesta altura que a contemplação da morte pode conduzir a uma reflexão profunda sobre a sua inevitabilidade e sobre o processo de morrer.
Não faz sentido querer sobreviver ou temer a aniquilação. Isto deve-se ao facto de a morte nunca encontrar o indivíduo, porque onde a morte está não estou eu, e onde eu estou a morte não está. Portanto o medo da morte é irracional, porque logicamente nós nunca podemos experienciar a morte em primeira mão. Há uma outra razão pela qual as pessoas aceitam a morte em vez de a temerem. Deve-se à crença de que a morte não extingue a luz, apaga a lâmpada porque chegou o amanhecer. Se uma pessoa tem fé suficientemente forte numa vida após a morte, então pode adoptar esta crença – de que a morte é na verdade o começo da vida, que uma pessoa irá «nascer» para um mundo melhor. Afinal de contas, o objectivo da vida na terra pode ser visto como uma preparação de nós próprios, e especialmente das nossas almas, para uma vida futura melhor. A morte não tem necessariamente de assinalar o fim da vida, podendo ser tratada como o inicio de uma existência muito melhor. É bem possível que, quando a morte ocorrer, a alma abandone o corpo que antes a detinha para emergir num outro mundo, num mundo superior. O corpo terreno é perecível, mas a alma pode ser sempiterna, e quando a morte sobrevém ela escapa aos grilhões do corpo. A alma é a essência de qualquer ser humano, pois é o que distingue qualquer pessoa quer dos animais quer das outras pessoas. A morte é apenas o fim do corpo; a alma, que é a essência do indivíduo, avança para outro mundo, livre da distracção do corpo físico. Com efeito, os estados superiores que dizem respeito à alma são muitas vezes considerados subjugados pelos desejos físicos do corpo. A morte permite que a alma fique permanentemente livre dessas distracções. Ela só assinala o termo do veículo específico que foi temporariamente o último abrigo transitório da alma individual
A necessidade que algumas pessoas sentem de escrever uma declaração de vontade sugere que a morte não é o pior destino imaginável, e demonstra que algumas pessoas realmente acreditam que a dor extrema e a indignação na terra podem ser piores do que a própria morte. No entanto, este facto não evita que uma parte da sociedade a considere o pior estado imaginável. Há ainda uma outra perspectiva, a que vê a morte como absoluta, devendo ser evitada a todo o custo, por ser irreversível. Apesar de a morte representar a negação da dor e do sofrimento, ela é, irremediavelmente, a negação definitiva de tudo.
O medo de que possa não haver uma vida após a morte parece ser o pensamento mais desencorajador. Isto porque a morte adquire um sentido totalmente diferente com a aceitação da vida após a morte ou com a crença em alguma ideia semelhante. Se uma pessoa tem esta convicção, então a morte é menos assustadora, na medida em que assinala apenas o final da sua vida terrena e, ao mesmo tempo, a possibilidade de uma nova existência, Se após s morte não houver nada, então ela assinala o fim da própria existência. Este é um pensamento grave, pois faz diminuir a importância da humanidade na ordem do universo, e retira o sentido à vida. A crença numa existência após a morte permite que as pessoas encarem o seu fim com o mínimo de receio e mesmo com esperança, pois se vamos para um lugar melhor, então não parece fazer sentido temermos aquilo que nos conduz a esse lugar.
Nós não podemos experienciar a nossa própria morte, a morte iminente de um indivíduo pode ser prevista no caso de se tratar de um doente terminal, mas, para a maioria das pessoas, ela chega quando menos se espera. A sua imprevisibilidade acentua o seu poder, podendo provocar um estado de medo, sobretudo porque transcende todas as coisas. Aquilo que parece ter valor para nós durante as nossas vidas, de repente, deixa de ter qualquer importância quando comparado com a importância das nossas próprias mortes.
A morte é uma parte da vida que todas as pessoas têm de aceitar. Podemos encontrar conforto na morte se nos esforçarmos, mas precisamos de ter fé, pela simples razão de que a morte será sempre um mistério enquanto vivermos. Há também quem se apoie num princípio puramente pragmático, argumentando que, ainda que não acredite na pós-morte, ao morrer, se for verdade que esse estado não existe, a pessoa nunca virá a saber que estava certa; contudo, se não acreditar nessa possibilidade, e se a vida depois da morte existir, então será condenada e arrepender-se-á da sua loucura. Neste sentido quem tem fé não terá nada a perder. Alem disso, com essa crença, oferece conforto a todos sempre que for preciso.

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