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sexta-feira, 7 de maio de 2010

A minha angústia pessoal


Costuma-se dizer que a vida é feita de pequenas coisas. Que essas pequenas coisas somadas são tudo. E eu não sei viver sem tudo, sem essas coisas que me preenchem e que me deviam realizar. Não sei viver sem projectos embora tudo na minha vida tenha sido uma nuvem confusa. Deixei de fazer projectos, já não acredito no futuro. Não gosto de ponderar nada. Se o faço sai asneira, embora quando não o faço aconteça quase sempre o mesmo. Mas vivo feliz quando quase me realizo. Vivo os dias um a um. Não vivo a vida a 100%, nem a 50% alguns dos dias. Acho que ela, a vida, só tem sabor quando vivida a 110%, nos limites do normal ou para além disso. Vivo cada dia como se fosse aquele o tal, não o último, mas aquele, mas nunca é, nunca foi, no entanto o melhor dia é sempre aquele que já passou, sou um eterno saudosista e nostálgico.
De alguns anos para cá dei por mim numa angústia de não saber viver o dia seguinte, ou pior, nem o dia presente. Estou cansado.
Acredito no destino, logo não preciso encontrar uma razão para tal sentimento. Este será o meu destino, tal como tem sido a minha caminhada até aqui, feita através de caminhos tortos e desiguais, sempre alternativos. Se quisesse encontrar a razão também a sei, tenho é de convencer as pessoas que me são próximas que essa razão existe por muito que a neguem. A razão é simples e óbvia. Sou emocionalmente desequilibrado, maníaco-depressivo, ex-alcoólico (se isso se poder interpretar assim), psicótico e paranóico.
A mente atingiu um estado de saturação que ultrapassou o estado normal de reparação e recuperação suficientes para que possa algum dia voltar a ser uma pessoa normal, na verdade “normal” mesmo só fui até aos meus 11 anos de vida, depois foi o que se sabe.
Estou mentalmente e fisicamente cansado de uma vida, que, maioritariamente, já foi vivida, e vivida depressa demais, como se os ponteiros do relógio não acompanhassem o meu ciclo de vida estando constantemente atrasados em relação a ela. Estou cansado de enganar-me a mim mesmo com ideias falsas de normalidade, dizendo que o corpo e a mente é o que queremos fazer deles e que não será o desconhecido que me comanda, quando acontece exactamente o contrário. Estou cansado de adiar as coisas. Estou cansado de ser sensível demais, mas toda a gente pensar que eu sou insensível, que tenho uma couraça impenetrável. Estou cansado de ser moldado pela vida e não ser eu a moldá-la como gostaria. Estou cansado das noites mal dormidas, dos sonos que não aparecem sem ser com Bromalex, Victan, Xanax ou outra coisa qualquer que engane a insónia permanente.
Mas também não acredito em mim distante, desligado do meio envolvente e por isso estou cansado e desiludido com o que me rodeia, da minha terra, das pessoas, do meu país, do meu mundo de sempre.
Tenho tanta coisa para fazer e tão pouca vontade de lhes pegar. Tenho tanta vontade de lhes pegar e tão pouca motivação para o fazer. Tenho tanta motivação e ao mesmo tempo um sentimento de inutilidade do que faço ou deveria fazer. Dou por mim a falar de revolução e mudança mas deparo-me com o facto de não saber fazer a revolução nem a mudança dentro de mim. Dou por mim a pensar nos outros e não tenho a capacidade de reflectir e agir sobre mim. Sentimentos complicados e opostos estes, não é? Mas são os sentimentos que me invadem numa angústia que se tornou preocupante de inicio, normal depois, inseparável no presente.
Tenho a facilidade de entender que sou assim, e admitir a realidade, mas essa facilidade não me ajuda na hora de melhorar ou controlar, pelo contrário contribui para uma maior angústia e ansiedade, o saber que não nos conseguimos controlar ainda é pior, felizes são os pobres de espírito que não pensam na sua sorte e vivem em descanso.
Sei que amanhã vou continuar igual, que a angústia e a ansiedade continuarão permanentes, alternando entre a leveza e a intensidade, e sei que não vou mudar, burro velho não aprende línguas diz a sabedoria popular, e di-lo muito bem. Talvez no fundo apenas queira tempo, para viver e ser vivido, mas o tempo agora, ao contrário do passado, foge-me sempre, leva sempre vantagem.
No fim tenho sempre a morte como ultima aliada, a derradeira liberdade, o escape para tudo. O grito silencioso dos suicidas é sempre um grito de liberdade absoluta, porque ninguém ama mais a vida e a liberdade do que um suicida.
A morte é afinal a única certeza que temos nesta vida incerta!

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