Foi na Noruega que o Black Metal se transformou em ameaça nacional. Com a prisão de Vikernes descobriu-se uma rede de bandas activamente envolvida em rituais satânicos e vandalismo. Varg “entregou” três bandas norueguesas como formadoras das acções criminosas: O Burzum, Mayhem e Darkthrone, além de duas bandas americanas: Deicide de Glen Benton e uma banda pouco conhecida chamada VON (que segundo Varg significa “V” de vitória, “O” de orgasmo e “N” de nazi).
O líder dos Deicide Glen Benton era a figura mais em evidência do Black Metal, e foi acusado de torturar animais, apoiar o sacrifício de crianças, trazer uma cruz invertida estampada na testa e pregar o satanismo. Mesmo assim, parece que Glen usa estes artifícios como jogada de marketing, e não chega a colocar em prática tudo isso. Mas com o clima pesado de acusações, os discos do Deicide foram banidos das prateleiras norueguesas.
A tradição satanista do Heavy Metal e seus estilos derivados sempre provocou a ira dos católicos no mundo inteiro. Ozzy Osbourne e o Judas Priest foram parar os tribunais, acusados de levar adolescentes ao suicídio. Provaram sua inocência, mas as bandas norueguesas apoiam abertamente o assassinato e o suicídio. Quando o vocalista Dead, dos Mayhem morreu em circunstâncias suspeitas, Euronymous foi acusado de fotografar e esquartejar o cadáver do amigo – rumores que ele não nega nem confirma.
“Algumas coisas aconteceram, outras não”. Escrevendo para um fanzine de Black Metal chamado Dakness, o vocalista da banda norueguesa Emperor, Bard Faust, diz: “As bandas velhas falavam de igrejas em chamas – as bandas de hoje põem fogo nelas”!
Euronymous diz que ele e Vikernes ocupam a mesma posição na hierarquia dos Terroristas Satânicos, e que a organização conta com dez membros, que formam o “Círculo Interno” (Inner Circle) e manipulam um grupo de “escravos”, que seriam pouco mais que fãs de Black Metal facilmente impressionáveis. Definem como inimigos aqueles que se opõem à sua crença, e também bandas que se dizem Black Metal mas não seguem o mesmo caminho radical trilhado por eles. “Porque diabos as bandas de Black Metal não querem matar pessoas?”, pergunta Vikernes.
Varg está livre pois pagou fiança de duas acusações de incendiário, e declara: “Fui acusado de corrupção de menores, queima de igrejas, alguns assassinatos, posse ilegal de armas...um moitão de coisas. Também me acusam de...como direi?...“forçar” pessoas a fazer coisas por mim. Mas só fui condenado como incendiário. Não quero comentar se sou culpado ou não, seria pouco inteligente de minha parte. Tenho um óptimo advogado, por isso estou sob fiança”. Um anúncio do Burzum mostra uma foto dos restos de uma igreja queimada, com o texto: “Hino às igrejas em chamas”, embora ele não concorde que isso seja admitir a culpa. “É como dizer: ‘Faça isso, você também pode fazê-lo’. E assim convertemos as almas dos miúdos com nossa música...”.
Há pessoas que querem Varg Vikernes internado num hospício. “Não ficarei preso pois não podem provar nada. Meu maior problema é evitar ser internado numa casa de loucos. Tem muita gente a querer colocar-me no hospício. Este é o meu maior problema, o resto não é nada...”. Vikernes tem uma razão para queimar igrejas. Segundo ele, “...nós apoiamos o cristianismo porque ele oprime o povo, e queimamos igrejas para fortalece-lo, podendo depois guerreá-lo. O povo não vale nada e é estúpido, não se espera que pense. Espera-se que siga um deus ou um líder. Apoio todas as ditaduras, e me tornarei o ditador da Escandinávia. Sou um viking, nasci para lutar. Faça guerra, não faça amor...certo? Um pouco do espírito viking ainda vive, e sou parte dele. Pessoas estúpidas andam por aí amando umas às outras...Fomos feitos para fazer guerra.”
Sobre assassinato, ele comenta: “A única coisa negativa sobre isso é que quando você mata alguém, essa pessoa não sofre mais. Gostamos que as pessoas sofram, quando as matamos, elas deixam de sofrer. Mas em geral, assassinar alguém é bom e positivo.”
Tanto Varg quanto Euronymous citam o Venom e o Bathory como influências. Mesmo que saibam que nenhuma dessas bandas se envolveu com satanismo na prática, escolheram acreditar assim mesmo no que sua música pregava. “Não sei o que se passava na cabeça dos tipos dos Venom quando eles surgiram”, diz Euronymous, “mas sei de seis pessoas que morreram mais ou menos directamente como resultado da existência dos Venom. Uma foi a mãe do guitarrista do NME, uma banda americana que lançou em 1985 o disco Unholy Death (Morte Profana). Ele picotou sua mãe a tesouradas por causa dos Venom. Espero que os tipos do Venom saibam disso. É seu legado.”
O ex-vocalista do Venom, Cronos, nega inteiramente essas acusações. “Quando se fala em satanismo relativo aos Venom, se fala sobre a crença em si mesmo, em dar-se a liberdade de escolher entre amor e ódio, o bem e o mal” diz Cronos, agora com sua própria banda. “Não se fala sobre enxergar uma divindade. É falar sobre quanto se pode ser melhor. Tudo isso é muito triste. Guerrear e matar pessoas é voltar atrás no tempo. Tentar impor suas ideias através da violência – foi o que Hitler fez aos judeus!”.
Euronymous, que tinha 25 anos na época, é o chefe do Black Metal na Noruega. Toca guitarra no Mayhem e tem uma loja de discos chamada Hell. Também controla o selo Deathlike Silence, contratando somente bandas “que representem o mal total”, segundo suas próprias palavras. A morte através de suicídio do vocalista do Mayhem, Dead em 1991, é comentada por Euronymous com frieza. “Dizem que o matamos, tiramos fotos do corpo e usamos pedaços de sua caveira como colares”, admite. “Mas na verdade ele matou-se. O Dead era uma pessoa muito especial, nem nós o conhecíamos inteiramente. Ele estava sempre na floresta, e deixou um bilhete dizendo que lá era o seu lugar. Ele acreditava não ser deste mundo. Ele promoveu os Mayhem. Quando se matou, se tornou uma lenda. Não ligo se as pessoas morrem, nem aquelas que conheço. Ele era um grande vocalista, mas vocalistas sempre podem ser substituídos. O que ele fez foi um grande sacrifício, e a banda só ganhou com isso...”
Embora admita ser membro do Satanic Terrorists, nega participação directa nas acções do grupo. “Seria estupidez me envolver directamente – se eu for pego, todo mundo ‘dança’. Cuido do lado administrativo, e meu selo arrecada o dinheiro. Temos um grupo de militantes que cuida das coisas que devem ser feitas.” Falando de outras bandas, Euronymous é directo: “Bandas como o Therion se dizem Black Metal, mas pregam o amor e a vida em família e nossa religião diz que é isso que devemos destruir. Não descansaremos enquanto eles não morram ou acabem”. Foi dito que Vikernes pôs fogo na casa de Kristofer, vocalista do Therion, mas a verdade é bem menos dramática. Na verdade teria sido a namorada de Vikernes, Suuvi Puurunen, que espetou um disco do Burzum com uma faca na porta de trás da casa de Kristofer e puxou fogo, queimando um pouco a porta. Kristofer estava então na Alemanha. “ Não tenho medo”, diz ele. “O tipo mandou a namorada fazer o serviço dele. Quem virá da próxima vez, o seu cão?” Os tipos dos Paradise Lost, banda doom inglesa, também experimentaram a “fúria” dos terroristas satânicos, tendo seu autocarro cercado por seguidores quando em turnee pela Noruega. O vocalista Nick Holmes, dos Paradise Lost, disse que “os discípulos tinham dez anos de idade em media, ‘fuckin’ embriões!” Sobre o Deicide, Euronymous tem uma opinião curiosa: “Eles são bem comerciais, e isso fará com que mais pessoas se interessem por Black Metal. Quando seus fãs se encherem deles, virão a nós.” Ele afirma que seu companheiro de “fé” Vikernes não irá para a cadeia: “Eles não têm provas nem testemunhas, pois ninguém ousa servir como testemunha. Se alguém foder algum dos nossos, terá o resto de nós em seu pescoço: “Vikernes tira um sarro: “Não há nada como violência insana. Sair pela rua e chutar alguém é estimulante. Sempre que saio levo armas comigo; agora por exemplo tenho aqui um soco inglês e uma grande faca. Ninguém ousa me atacar, e se o fizer, morre”.
Euronymous avisa que bandas viajando pela Noruega correrão sérios riscos no futuro: “Não somos nada mais que escravos do chifrudo, somos religiosos e a total obediência é um conceito fundamental para nós. Sou um grão de areia nos cosmos comparado a Ele. O que acontecer a nós não importa. Se eu tivesse um bom motivo para matar, ficaria preso por vinte anos com prazer. É por isso que nossos inimigos devem levar-nos a sério. Não temos nada a perder. Prevejo uma nova Era das Trevas...”
Essa era das trevas já existe no Norte da Europa. Países gelados como a Noruega, Finlândia e outros países nórdicos são o cenário ideal para este tipo de atitude. Não há inflação, corrupção, menores abandonados, fome.
Duas facadas na cabeça, cinco no pescoço e dezesseis nas costas. Uma carnificina. A sala do apartamento de Oysten Asrseth – vulgo Euronymous – estava banhada em sangue. Levando a cabo suas crenças, Varg Vikernes – vulgo Count Grishnachk – assassinou seu rival em Oslo, Noruega, no dia 10 de agosto de 1993. Euronymous era dono da gravadora Deathlike Silence e de uma loja de discos, Helvete, além de líder da banda Mayhem e chefe do Inner Circle, grupo que professa o satanismo. A sequência do crime foi contada pelo assassino no tribunal, como se segue: “Fui para Oslo arranjar uns discos e levar um contrato para o Aarseth, nunca com a intenção de mata-lo. Eu sempre levo armas comigo. Tinha três facas e mais quatro punhais, um machado, uma baioneta e um taco de besebol no carro. Sempre carrego um monte de armas para o caso de algo acontecer”.
Com Varg viajou um elemento de 22 anos chamado Snorre, que teria falado com Aarseth a respeito de sua entrada nos Mayhem. Snorre não estava armado.
“Toquei a campainha”, continua Varg, “e Aarseth abriu a porta. Parecia cansado, vestia apenas umas cuecas. Entreguei o contrato e, de repente começamos a discutir. Entre outras coisas, ele me acusava de dizer merdas sem sentido. Começou a bater-me. Os covardes ameaçam, os fortes agem. Ele chutou no meu peito.
Assustei-me e empurrei-o. Quando se levantou, Aarseth começou a correr pela cozinha. Tenho certeza de que procurava uma faca, então peguei uma das minhas e o esfaqueei para que ele não chegasse até a cozinha. Gritou por socorro. Fiquei louco. Ele correu para a entrada da casa e eu fui atrás. Continuei a esfaqueá-lo para que calasse a boca. Meti a faca nele porque estava com raiva. Ele gritava por socorro ao invés de lutar”.
Sabe-se que a briga entre Varg e Euronymous diz respeito ao lançamento de Aske, um mini-EP do Burzum, pelo selo de Aarseth. Conta Varg: “Quando o EP foi lançado, eu dei uma entrevista com o propósito de promover o disco. O resultado disso foi que acabei sendo preso pelo incêndio das igrejas. Quando saí da cadeia, Aarseth ainda não tinha lançado o EP. Ou seja, toda publicidade foi inútil”.
Ainda no tribunal, Vikernes continuou seu depoimento: “Sou um nacionalista e carrego armas para me defender a mim e ao meu país. Meu objectivo é um lindo reino norueguês. Temos pele branca, somos loiros e de olhos azuis; os que não são assim não pertencem a este lugar. Somos semideuses”.
Ainda sobre os depoimentos, o acusado de cumplicidade, Snorre, declarou: “Ele (Vikernes) falava muito em matar o Aarseth. Um dos planos dele era dar uma machadada assim que ele abrisse a porta. Eu disse que era estupidez andar com um machado numa área tão cheia de prédios. Outra alternativa era pedir para que ele nos mostrasse algo no computador. Poderíamos golpeá-lo no pescoço enquanto estivesse sentado e de costas para nós.” Ele ainda declarou: “Aarseth merecia morrer.” E Varg completa: “Eu mijo na sua cova.”
Snorre continua seu testemunho: “Estava no carro e após alguns minutos dirigi-me à porta do apartamento. Cheguei mais perto, ouvi barulhos lá dentro. De repente, a porta se abriu e Aarseth veio correndo em minha direção. Vi sangue na sala e também Vikernes esfaqueando-o. Então, ambos desapareceram pela escada. Depois de alguns segundos e sem saber o que fazer, corri escada abaixo, passei por eles e saí pela rua. Saímos de Oslo e paramos no lago Opplan, onde Varg tomou banho nu. Ele pegou nas suas roupas sujas de sangue, amarrou-as numa pedra e atirou tudo na água. No caminho, Varg disse que o atingira na cabeça, no pescoço e nas costas, só que errou a jugular. Disse ainda que era desonroso para um líder da comunidade Black Metal ter morrido de cuecas.”
Vikernes concedeu uma entrevista a um jornal norueguês certa vez. Declarou ter o apoio da organização racista norte-americana Ku Klux Klan (KKK), e o da Igreja de Satã francesa. Na mesma ocasião, declarou ser o filho de Satã.
“A verdade é óbvia. Querendo ou não, todos os noruegueses são filhos de Satã. Não sou um satanista que acredita numa imagem do Demónio. Não sou um adorador do Demónio. Não sou racista, pois não odeio outras raças. Amo minha raça e quero mantê-la como é. Outros povos devem ficar aonde estão para não haver mistura de culturas.”
Ele também discorreu sobre o Inner Circle, onde ele e Aarseth eram figuras proeminentes.
“Há satanistas comuns que falam que são a elite. Os nazis falam que são uma raça da elite. Nós somos a elite da elite das raças. Logo, podemos colaborar com os nazis e satanistas. A modéstia é uma virtude cristã. Nós vemos a honestidade entre nós como algo importante. Podemos mentir para os cristãos porque aí criaríamos o caos.”
Enquanto está sob custódia da polícia, Vikernes escreve um livro chamado ‘Vargsmal’.
“Vivo e respiro para controlar a propaganda fora dos muros da prisão. Quero influenciar e controlar a juventude antes que sofra lavagem cerebral. Eu considero uma blasfémia construir igrejas no solo de Odin (antigo Deus nórdico). A Noruega é o solo de Odin. Os que nela constroem igrejas são os criminosos, não quem as queima.”
“Sou um tipo feliz e sociável. Quando o tempo está bom, sento-me em minha cela e apanho sol pela janela. As pessoas na prisão são ok. Não sou obcecado pela escuridão, como diz a imprensa. Pintei meu cabelo de preto apenas para mudar o visual; jamais vou pinta-lo de novo. Tenho orgulho de meu cabelo loiro, meus olhos azuis e minha pele branca. E pretendo manter meu cabelo comprido porque os chefes vikings tinham cabelos longos.”
Ainda no tribunal, Vikernes (cabelos presos em rabo-de-cavalo), declarou: “Junto de grupos nazis, nós, do Inner Circle, planejávamos um ataque a uma igreja durante a missa de domingo. Explodiríamos a igreja com as pessoas dentro.”
E o julgamento continua: se condenado, Varg apanha31 anos. Bard Eithun – vulgo Faust – da banda Emperor, apanha 14 anos pela morte de um homossexual. No tribunal que julga Varg, foi lido um relatório de 50 páginas sobre seu estado mental, escrito por dois psicólogos que o entrevistaram na prisão
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