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terça-feira, 23 de março de 2010

Num passado

Vivo com todos presentes, preso no passado, num passado que foi lindo, em sua altura, mas também num passado que me fez acordar num mundo que desconheço e do qual não faço parte...
Agora vivo num presente miserável e imundo pois tudo o que fui e tudo o que gostava ficaram lá, no passado, presos, e apenas consegui recuperar uma pontinha de cada um deles, é esse passado que me faz amar a morte e que suportou todas as minhas dores comigo, mas é também esse passado que faz falta quando sinto necessidade de pensar outras coisas, mas graças a todos isso tornou-se impossível, pois acabaram com o que restava dele quando de meu coração arrancaram a esperança de prosperidade que me restava.
É nesse passado que penso quando choro sozinho no canto que escolhi para morrer, é nesse passado que penso quando sinto falta que alguém me ame, é com esse passado perdido e acabado que sonho e tenho pesadelos quando durmo acordado e quando acordo a dormir...
É esse passado que oiço quando paro e oiço o silêncio, é esse passado que sinto, quando nenhum sentimento resta em mim, é esse passado que peço quando já ninguém me ouve mais, é esse passado que grito quando já estou morto...
Num passado que fugiu com medo de mim, num passado que trancaram numa caixa de sonhos e promessas que guardam só para alguns, e vivem com um presente que já não tem amor por mim, mas sim por outros, pois eu, estou morto!
Um verdadeiro presente, para mim, destruído por ilusões e desigualdades inacabáveis e sonham com ele a toda a hora e eu sei, pois disseram-me isso mesmo...
Sede de morte, tive e muitas vezes tenho, quando olho para trás e penso nesse passado que fecharam dentro dessa caixa de sonhos que têm escondida, e dor foi e ainda é o que sinto, embora não o diga pois é difícil para mim suportar o peso dum desgosto provocado!
Mataram-me, sim, sem piedade nem escrúpulos, e sim, não mudei, sou o mesmo de sempre, mas hoje estou aqui e falo com todos enquanto choram as lágrimas que nunca me viram chorar... Estou aqui e dedico-lhes um final de uma história sem fim...
Serei o vosso pior pesadelo quando estiverem a dormir, irei dizê-lo baixo, num sussurro de vento, que me mataram, que estou morto e caído, deitado, desvanecido no caixão negro onde me colocaram, para morrer sem sofrer mais...
E durmo, eternamente preso no vosso, no nosso passado destruído, e choro dormindo com eternas lembranças de um passado morto...

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