A necrofilia é uma situação rara em que nos indivíduos se sentem excitados ou encontram exclusivamente a excitação e o orgasmo na actividade sexual com um corpo morto.
Esta situação, sobretudo verificada em homens, mas tambem em mulheres, acontece geralmente em casos em que o individuo manifesta pouco ou nenhum interesse por relações sexuais com pessoas vivas, sendo a morte em si o objecto principal do seu fascínio, e pode inclusive conduzir a situações de homicídio qualificado, se a excitação sexual for conseguida principalmente através da acção de matar.
No passado, relatavam-se histórias de mulheres aparentemente mortas, que haviam sido vítimas de ataques sexuais, na sequência dos quais» recobravam os sentidos». No século XVIII, era considerado interessante que morrer no sentido sexual pudesse levar ao renascimento no sentido total. Num período anterior, o teatro jacobino levava à cena peças como The Revenger`s Tragedy, transbordantes de desejo necrófilo, que podem bem ser representativas dos debates da altura, entre católicos e protestantes, em que os primeiros defendiam o papel dos cadáveres sob a forma de relíquias e ossos, ao passo que os segundos o rejeitavam em absoluto.
A necrofilia procura, contra todas as evidências, revitalizar o cadáver, resgatando-o da condição de objecto em que se tornou. O corpo morto é investido de uma subjectividade passiva. Este tema, caro à cultura de todo o século XVII, está inclusive presente na personagem de Hamlet, quando utiliza a caveira como memento mori. O que faz da necrofilia um fenómeno cultural interessante é a sua intenção de desenterrar o passado e de o trazer de volta à vida. É o impulso reaccionário de uma cultura que se sente desligada de um passado que lhe conferia sentido, que oferecia a sua ordem às instruções, leis e costumes.
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