
Ultimamente parece que já se tornou hábito de tantos a que tenho ido, uns por respeito, outros por mera curiosidade, pois nem conheço as pessoas, e outros, os dificeis, das pessoas conhecidas, queridas, familiares principalmente, e torna-se doloroso porque tenho de exteriorizar a dôr de forma controlada e anónima, normalmente sozinho, prefiro sofrer sozinho porque vejo os outros sofrer em público, a automutilação é uma boa opção.
Há uns anos atrás, largos anos atrás, ia aos funerais por mero gosto, curiosidade mórbida em observar as pessoas, a dôr, a perca irreversivel e as suas consequências imediatas, o cemitério, com a sua altivez, lugar de culto e silêncio, onde permanecem milhares de restos humanos de sentimentos e passagens terrestes de pessoas, homens e mulheres, que de uma forma ou de outra influênciaram a nossa maneira de ser actualmente, o estado de coisas, tudo está interligado na vida e na morte.
Nas portas do cemitério paro, sempre paro na porta, antes da transposição para o interior do mesmo, e penso, quando será a minha hora, quando serei eu a ser trasportado na caixa de madeira enrolado em panos brancos e a cabeça tapada por um lenço, quando será que será a minha vez de transpôr esta porta para sempre?? Interrogo-me, pergunto-me se quero assim, se quererei que me levem para aquele lugar, porque não morrer e desaparecer de forma a não ser nunca descoberto o corpo? Porque não ser cremado? Porque não me imolar como forma de um qualquer protesto, e não tenho poucos, seria uma boa forma de morrer e chamar a atenção.
Faz-se o ultimo trajecto até á cova aberta no chão castanho de xisto, olho em redor, pergunto-me mais uma vez, onde será que eu irei ficar?? Onde será o meu lugar, pode-se marcar com antecedência? Será que anda vai demorar muito a partir?
Não gosto de ver as supulturas juntas, demasiado juntas, prefiro a parte mais antiga do cemitério, onde as sepulturas têm aquela forma desigual não alinhadas e muitas delas torcidas e levantadas, tem outro encanto, outra forma, outros tempos, outras pessoas, outros cadáveres.
Penso se irá muita gente no meu funeral, terão razões para ir acompanhar este rapaz até á sua ultima casa?? Ou pelo contrário, o alivio de me verem morto é tanto que se festeja nos cafés a morte deste escriba?
Serão muitos, serão poucos, quem serão? Quem será as pessoas que irão a meu funeral? Uma grande maioria era dispensável, é como ir fazer número numa qualquer manifestação, nem sabem ao que vão, a pergunta que me faço é: quem irá a meu funeral que verdadeiramente importava para mim? Corro o risco de não encontrar mentalmente ninguém, bem, poucos, muito poucos, alguns com lembranças passadas de momentos idos, alguns com saudades do tempo de mocidade, da escola, da Recreativa, de bebedeiras inesqueciveis, de maluquices, de correrias, de malandrices, de piratices, rapazes seráo rapazes para sempre, até o deixarem de ser e não se aperceberem disso.
Haverá lágrimas por mim? Pergunto-me novamente a olhar em rdor, onde será que vou ficar? Vão abrir a caixa de madeira (caixão) para me verem uma ultima vez? Não, talvez eu queira morrer de forma violenta e fique irreconhecivel, ai não se atreveriam, ou pelo contrário, a curiosidade mórbida da maioria em ver o cadáver faz com que se atropelem para chegar perto, para tocar, muitos deles desconhecidos em vida, tocam na morte como arrependimento dos actos passados, tade demais, o morto já não os pode absolver nem desculpar.
O confronto com a morte como fenómeno inevitável e com a forma como fomos lançados nun mundo que não criámos que nos permite traçar um caminho a seguir, reconhecendo o nosso final futuro e as possibilidades que temos e escolher livremente e de agir, dentro dos parâmetros de vida antes da morte,
Devemos pois pensar na nossa morte como pensamos noutra coisa qualquer, e programá-la, definir e traçar como queremos ser tratados depois de mortos em todas as situações posiveis e imaginárias.
Tenham uma boa morte!!
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